sexta-feira, 13 de maio de 2016

GREGOR


Créditos da Imagem ao site: 



             Gregor chegou à casa como um menino, era embalado por sua mãe, ela se punha a cantar, oh Gregor, como tu és pequenino! No embalo do aconchego da família Gregor crescia, desde menino fala em crescer, estudar e trabalhar, é prendado, por um futuro melhor há de lutar. Tem alma de valente, muito ele faz por muita gente. Gregor é prestativo, estuda todos os dias para vida melhor conquistar. Porém, a família de Gregor é bastante simples, tem pouco dinheiro para a casa manter, Gregor cedo começa a trabalhar, aos 13 (treze) anos arruma seu primeiro emprego numa mercearia, assim ele ajuda todo mês seu Pai e sua Mãe nas despesas da casa, ah Gregor, tu és iluminado, precisa ser conservado, a Mãe e o Pai de Gregor bradavam graças aos trocadinhos que ele ganhava, ajudava a inteirar o dinheiro das contas do final do mês. Gregor sentia-se satisfeito, útil na casa, às vezes até cantava, quem canta seus males espanta, Gregor cantava para seus males espantar, e Gregor muitos dias se punha feliz a bradar.
              Gregor fez carreira, um salário bom chegou a ganhar, enquanto Gregor ganhava, seu Pai, sua Mãe e sua irmã punham-se a descansar, a ponto de Gregor ser o que mais ganhava na casa, Gregor ganhava e sua irmã bradava, ah Gregor, como tu és bondoso, e o carinho da irmãzinha chegava a ser meloso, tanto que babava, parecia um felino a adular, eis o sonho que estou a contar. Gregor era o centro da casa, todos adulavam Gregor, o filhinho querido da Mamãe e do Papai, sua maninha bradava orgulhosa do Gregor que para manter a casa se punha a trabalhar, presenteavam-no, paparicavam-no, Gregor parecia ser mais um salvador, ah Gregor, como tu és bom, maior que tua bondade não há nada que há.
            
             Gregor se sentia honrado, era tão doce que chegava a ser melado, tanto que se lambuzava, mas Gregor desconfiava dos discursos que estava a escutar, pareciam ser falsos, não estou a mentir. Gregor tinha seu próprio quarto, comia à mesa com todos os demais na casa, era o centro das atenções, serviam-lhe diferentes degustações, Gregor não se acanhava, ficava satisfeito de ver-se como o homem da casa, escuta o que estou a falar, ah, Gregor, como tu és bondoso, és honrado e caridoso. Gregor ficava a pestanejar: bondoso, caridoso? Isso é xaveco que não querem falar, e os dias se iam, eles bradavam e riam com o sucesso de Gregor, ah Gregor, tu és o menino que eu sempre sonhei em ter, dizia sua Mãe, adulavam Gregor como se o melhor fosse, um rapaz de honra que qualquer um sonhou em ser.
           Gregor escutava e se punha a trabalhar, era o melhor que fazia, eis o que estou a bradar, vai Gregor, vai de tua vida cuidar, tu és homem de negócio, o trabalho é seu ócio, tu precisas gerenciar. Amigos batiam à porta de Gregor, tratavam de negócios, ele se tornou um homem influente, tomavam  café, diziam ter fé, Gregor não se enganava, era o homem que orgulhava a casa, chegava a ser visto como um bom partido, Gregor era orgulho, assim sua mãe contava, ele cedo acordava, tinha que batalhar para manter a casa, chegava tarde da noite, era atrevido, articulista, solucionava problemas e deixava seu patrão se sentindo abençoado, ah, Gregor era o funcionário que ele sempre sonhava em ter, resolvia os problemas da empresa, deixava tudo sobre a mesa, o Patrão ficava orgulhoso, chegava a pensar torto, no Gregor o funcionário do mês, queria agradar Gregor para ele continuar a gerar lucros, ah, o Gregor era o funcionário que ele sempre sonhou em ter.
            Gregor não era desmerecido, era um sujeito que dizia ter vencido, e Gregor se punha contente a bradar, ah, de tão contente ele se punha a cantar e Gregor cantava até chegar o dia que seu canto começou a desafinar, foi acometido por uma grave doença, seu mundo desmoronou, o desbravador virou a casaca e sua vida se esfacelou. Seu quarto vivia sujo, pra não dizer imundo, Gregor virou um problema, parou de trabalhar, seu orgulho se esfacelou feito terra, de tanto chorar seu coração chega a berrar, ah, a tempestade está a cair, a doença pegou Gregor, ele se cala, tem a impressão de ter virado a peste da casa, não dava lucros, só despesas e trabalho, mas doente chega a morrer em vida, é raça que está a ser banida, que querem exterminar para trabalho à família não mais dar, Gregor ficava imundo, pouco o banhavam, foi quando o Gregor começou a se metamorfosear.
         O Patrão de Gregor só o visitou uma vez, viu que não tinha jeito, abandonou de vez. A Mãe de Gregor pouco o dava atenção, gente doente vira verme, mais parece amarração, as regalias da casa que Gregor mantinha se foram de vez, sua Mãe o olhava duro, era um olhar amargo, Gregor chorava tanto que chegava a berrar, ah, pobre Gregor, era um miserável, fico então a pensar quantos Gregor neste mundo há, a doença faz a desgraça do Gregor reinar, o doente mais parece ser um ser invisível que ninguém quer olhar, e o grito de Gregor era torto, tapavam os ouvidos pra ninguém ouvir, ligavam o som alto, enquanto Gregor se esfacelava em prantos ligavam o som alto, antes escutar som alto que o berro de Gregor, causava vergonha aos vizinhos, ah, alguns amigos de Gregor nada sentiram com sua tragédia, no fundo riam, rir da desgraça alheia é normal, normalizou-se tudo, desgraça alheia é motivo de riso na língua de quem diz ser muito sabido, são tão sabidos que caem em risos quando alguém se dá mau, só riam enquanto a desgraça de Gregor não lhe acomete, daí nobre leitor, o berro se torna público, eis o que diz o desbravador. Gregor está a sofrer, morrendo em vida, pode crer. Gregor se sente inútil, seu orgulho acabou, sua vida se esfacelou, ninguém dá atenção a Gregor, não estou a mentir, Gregor, não se deixe ir.
             Gregor se sente sem forças para lutar, virou inseto imundo, começa a se metamorfosear, jogam-lhe comida ao quarto para não deixá-lo morrer de fome, ele evita sair do quarto, começou a virar um ser esquisito, que come ao chão como baratas, sem higiene e educação. Gregor quase não sai do quarto, depois que começou a se transformar ficou estranho, dá vergonha até de olhar. Gregor espia  pela fechadura o que acontece na casa, se chega visitas Gregor não pode nem sonhar em aparecer, virou vergonha, nem sua mãe nele há mais de crer, ah, pobre Gregor, está virando um bicho imundo que nem sua própria família quer ver.
             Gregor não mais senta à mesa para comer, come no quarto, isolado, o que mais o mata e o deixa frágil não é nem doença, mas a forma como a família o vê, num inseto ele está virando, até criou asas, que voa pelos cantos da casa para dos olhos alheios se esconder. Gregor só come depois de todos se abastecer, fica com os restos, é o canto que estou a dizer, servem a Gregor as sobras dos pratos, jogam comida ao chão, insetos comem sobras, Gregor  come sobras, ficam a se espernear do trabalho que Gregor dá, só reclamam de Gregor, Gregor virou inseto sarnento e imundo, não cuidam de Gregor, ninguém quer cuidar de Gregor, ele se põe a sofrer.
             Gregor se põe a rastejar até mesmo para comer, de tanto se rastejar criou patas, se adaptou a sua nova vida, como inseto ele é tratado e como inseto há de morrer, pela morte de Gregor já esperam, virou vergonha da casa, tem que morrer para dar espaço a outros que querem viver. Gregor chega a incomodar, até seu barulho irrita seu Pai, que o trata mau toda vez que ele se põe a berrar, ele berra porque este é seu jeito de chorar, sua Mãe não o dá mais colo, a criança cresceu e se transformou num inseto que ninguém faz questão de ver, Gregor o inseto agora sente vontade de morrer, Gregor vai se definhando cada dia mais, até o dia de sua metamorfose ficar completa, ninguém mais na casa sente vontade de estar ao lado de Gregor, ele inseto virou e inseto se mata, não o alimenta para ele forte ficar e vir a incomodar, Gregor começa a ter que roubar comida em sua própria casa se quiser sobreviver, tem que usar suas habilidades de inseto  para chegar até a cozinha sem ninguém perceber, ninguém quer olhar a Gregor, nem mesmo ficar perto de doentes que só fazem padecer, pode estar contaminado, eis o que estou a dizer.
            
  Certa noite, fazem um belo jantar, trazem visitas para provar, elas adentram a casa, Gregor está no quarto, não sabe dos convidados que estão a chegar. Gregor se põe a babar, a refeição parece estar boa, ele não se aguenta, inventa do quarto sair, ninguém o vê, se esconde atrás do sofá, à parede ele se põe a rastejar ao ponto de sobre a mesa cair, as visitas de tão assustadas com a feição de Gregor se põe a correr, a porta é o caminho para quem não quer crer. Seu Pai pega uma vassoura, Gregor usa suas asas para fugir, Gregor tenta fugir, leva vassouradas de seu próprio Pai até morrer, foi atingido na cabeça, não teve segunda chance, assim se age com insetos, quando gente vira inseto o maltratam tanto até o dia que ele chega a falecer, e Gregor falece, já era algo a se prever.
             O velório de Gregor ocorreu tudo normal, só seu Pai, sua Mãe e sua Irmã que estavam a se despedir, Gregor não era mais de utilidade ao mundo, por isso foi condenado a morrer, assim como muitos de nós somos condenados a morrer quando não somos mais considerados úteis ao mundo, eis a vida como ela é, pode crer.
            Caro leitor, por isso é preciso cuidado com as coisas que tu estás a dizer e a fazer, há muitos Gregor que já morreram, outros que hoje ainda sofrem e muitos que estão por vir, não sabemos quem será o próximo Gregor, por isso, mais amor e paciência com o outro.
           Estou-me a ir, preciso seguir viajem, o Gregor se foi e eu fiquei, o amanhã há de chegar, a aurora há de brilhar, a vida é feita de momentos, cuidado para não virares um Gregor, nossa vida é cheia de passagens nubladas e escuras, assim como o sol vem, a escuridão um dia pode tomar conta de nossos caminhos e nos fazer amargar até os últimos dias.
            Paz no coração, até mais.  

Andréia Franco
13/05/2016.

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