quinta-feira, 21 de abril de 2016

O relativismo do termo “Bela, recatada e do lar”



             De início, entendamos que na vida tudo é relativo, de modo que a inconstância e possibilidade de variação de tais termos trazem à tona debates e sentimentos arraigados na cultura social, um deles é a rejeição.
                Em razão disso, tudo o que venha a despertar sentimentos de tal natureza no público, em questão de instantes, pode se tornar viral nas redes sociais, uma vez que “para toda ação há uma reação”, seja ela positiva ou negativa. Para fazer fogo, basta um palito de fósforo. Assim é a mídia, querendo pregar a ideologia da mulher perfeita, já que até mesmo o que se entente por perfeição é relativo e o mais contraditório de tudo isso é que nem mesmo os defensores de tais ideologias são perfeitos. Quer nos fornecer uma personagem em quem possamos nos espelhar, mas há diversos tipos de espelho, tudo vai depender da tela, da tinta e da forma que a desenham. Costumamos nos projetar no outro, mas o outro é um ser exterior a você, que parte das vezes nem sequer faz parte do seu cotidiano, talvez o ápice da perfeição humana seja ele querer ser o melhor de si mesmo, não o outro.
                Eu diria que deveríamos ser fãs de nossos pais, mães e pessoas que nos toleram todos os dias porque os demais, a maioria nunca nos viu e nem sequer sabe que existimos. Todas as pessoas podem ser consideradas lindas, tudo vai depender de quem a vê e do olhar que se lança sobre ela, exemplo disso é o escritor que capta beleza até mesmo nas tragédias mais surreais. A beleza exterior costuma ser um atributo relevante no que tange ao julgamento de valor, mas nosso corpo tem suas limitações que, caso extrapolado, pode nos custar a vida. Beleza exterior um dia acaba, dentes um dia cai, dinheiro, certa época da vida, pode acabar ou passar a não ter valor algum, etc. Eis a vida como ela realmente é, na sua realidade nua e crua.
Toda ideologia é algo projetado, que está longe do alcance de quem a projeta, de modo que passamos parte de nossas vidas se autoprojetando nos outros e nos esquecemos de sermos nós mesmos. Ressalto ainda que nossas maiores frustrações se dão em razão justamente disso, de modo que criamos tantas expectativas sobre o outro a ponto de nos frustrar quando passamos a conhecer sua “outra” máscara. Além de humanos, somos animais, e animais agem por instinto, são capazes das piores atrocidades que já se viu falar. Muitos se escondem tanto que temem que sua verdadeira máscara seja descoberta, mas no palco da vida as máscaras tendem a cair, assim dizem os sábios, tudo tem seu tempo, é onde o cordeirinho se mostra lobo mau, a donzela se mostra prostituta, o santo se revela ladrão, etc.
Não percebemos, mas o excesso de projeção no outro acaba por nos adoecer, situação essa em que passamos a rejeitar aqueles que fogem aos padrões por nós idealizados, chegando aos extremos, muitas vezes, da auto rejeição. Acabamos por comprar o ideal projetado pela mídia, nos frustrando quando não chegamos aos resultados idealizados. Estar ciente dos limites do nosso corpo já é um bom caminho para a auto aceitação, se eu me auto rejeito eu não me aceito, cuja tendência é que venhamos a rejeitar no outro tudo o que rejeitamos em nós mesmos, e isso diz respeito a manias cotidianas de vestimentas, comportamentos, etc.
Desse modo, frisamos que o correto é que cada pessoa se sinta bem com seu próprio corpo, é preciso estabelecer limites para as projeções sociais, cada um vive a sua realidade e nela deve se “calçar”. Tudo o que foge à sua realidade, de certo modo, não está ao seu alcance e, por isso, não passa de um ideal.
Portanto, seja uma versão melhor de si mesma, auto projetar-se no outro pode não passar de uma ilusão, pessoas diferentes vivem realidades diferentes, vivamos cada um de nós com base na nossa realidade.

Andréia Franco

21/04/2016.

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