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Falemos
hoje da noção de inferno e paraíso, pois para isso não precisamos
ir muito longe, basta aperfeiçoar nosso olhar analítico e
observador.
No
inferno é onde mora a maldade, malandragem, tristeza, melancolia,
enfim, é como se fosse o lado negro do nosso eu, também se afirma
como o castigo e penitência daqueles que não foram bons o
suficiente ao longo de suas vidas, mas, qual o castigo/penitência
pior que sofrer por nossos próprios erros, que sermos castigados
pela massa opressora, calados ou até mesmo mortos? O inferno é ora
o padecer em vida, ora o que nos afasta dos demais, é ter que
aprender a lidar com o lado ruim do ser humano, aprender a enxergar
suas artimanhas, bem como seus jogos que protege uns e
desclassifica/extermina outros.
Já
o paraíso descrevem como sendo o lado bom, alegre, plausível, como
a luz que ilumina a escuridão, é a luz que emana de nossa alma, o
carisma, a afeição, a graça, o riso, a beleza, é o lado bom
daquilo que admiramos nas pessoas, que nos aproxima, que nos faz
querer estar próximas a elas e até mesmo a querer controlá-las. Um
paraíso é construído por nossos desejos mais íntimos, seja
sensitivo, sexual, emocional, pode estar mais próximo a um ideal, ou
seja, reflete aquilo que não temos e tanto desejamos/queremos
ter/alcançar.
Não
haveria sentido as trevas sem a luz, nem a luz sem as trevas, é
preciso um existir para o outro também existir. A tragédia humana é
alimentada ora por nossa graça, ora por nossa desgraça, já que
vencemos e perdermos nessa grande batalha da vida, de modo que temos
mais facilidade em lidar com o ganho, que é algo compensador, que
com a perda, onde nos é tirado/suprimido algo/alguém que tanto
amamos/cuidamos/almejamos.
Pregam
ideologias de seres perfeitos porque a perfeição humana está em
nossos próprios defeitos e frustrações, nunca seremos
suficientemente perfeitos para alguns, para outros talvez, isso
reflete nossa necessidade de criar, em nosso imaginário, seres e
situações que estão acima de nós, num plano elevado e espiritual,
eis o momento que o céu e o inferno tomam forma, onde o irreal e o
surreal nos é servido de banquete como ideologia ora como
recompensa, ora como castigo.
Como
nossas emoções, sentimentos e alegrias são limitados, criamos
seres imaginários que refletem o que há em nós, fazendo eclodir o
inferno e o paraíso, mantendo a literatura, o discurso e a
criatividade viva, que alimentam nossa necessidade de ficção e
fantasia, perpetuando a existência destes seres superiores enquanto
entidades imortais e permanentes nas mais diversas culturas e
sociedades.
Enfim,
queremos ser muito espertos, mas sempre haverá alguém mais esperto
que, conhecendo nosso ponto fraco usará isso a seu favor, o paraíso
e o inferno nada mais é que uma visão utópica do que há de bom e
mau dentro de nós, alimentada por nossos medos, bem como por nossa
necessidade de recompensa.
Andréia
Franco
08/05/2016.
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