Créditos da Imagem ao site:https://vejasp.abril.com.br/blog/pop/apelo-mc-mirella-idoso-roubo/
Quando se fala em
moralidade, pensamos logo em valores morais que norteiam nossa conduta ao longo
da vida. Porém, parte de nossas condutas são carregadas por situações que, em
crises de desespero, podem ser interpretadas como um grito de socorro de que
algo não está bem em nossas vidas.
Brilhantemente, Saramargo, em sua obra “Ensaio sobre a
cegueira”, nos faz lembrar que, em situações de caos, as pessoas perdem a
sua humanidade, restando-lhes apenas valores grotescos e insanos, onde uns se
aproveitam dos outros para se beneficiar da “cegueira” (fragilidade) alheia. Ao fim da obra, os personagens que perderam a
visão voltam a enxergar por terem retomado a sua humanidade, ou seja, seu amor,
empatia e respeito ao próximo.
Na sociedade atual, é notória a cegueira abordada por
Saramargo, onde a moralidade se sobrepõe ao valor humano (cujo conceito define-se
como: direito à moradia, ao trabalho, ao lazer, à alimentação, e outros). Tendo
em vista o caos instalado na sociedade, pessoas que nunca cometeram crimes se
veem obrigadas a roubar, chantagear e até mesmo matar na luta por sua própria
sobrevivência, porque, de fato, viver é uma guerra constante, onde cada um se
protege e até mesmo se “arma” com o que tem. Com base em nossa Constituição, é
o sistema que deve garantir ao cidadão de bem o básico para ele viver dignamente.
Infelizmente, na ausência do compromisso do Estado com o cidadão de bem, resta a
ele lutar como um selvagem para, pelo menos, ter o que comer diariamente.
O mundo atual está doente e sua doença é a falta de
humanidade, empatia, compreensão, de se colocar no lugar do próximo. Quem nunca
apanhou uma flor do quintal alheio que atire a primeira pedra. Há valores e
demagogias demais e humanidade de menos. Enfim, é preciso que as pessoas
retomem a sua humanidade para que a sociedade saia do caos instaurado pela
cegueira coletiva.
Andréia Franco, 30/03/2019